A nova moda Pós-Covid

Em um mundo de relações mais distantes fisicamente, a moda vai precisar, certamente, se reinventar. Mas como será isso? Afinal, os novos tempos que estão se desenhando mostram que tudo terá que ser revisto, desde as relações pessoais e profissionais até a maneira como as pessoas se vestem e enxergam as tendências fashionistas lançadas a cada temporada.

Monica Rosenzweig, designer de joias carioca que vive atualmente em Cascais, Portugal, e que mantém também um atelier em Ipanema, no Rio de Janeiro, explica, abaixo, 8 mudanças que devem acontecer com quem consome moda após o fim da pandemia.

 Sem limitação de movimentos e com conforto – Você se imagina em casa com uma calça de couro, botas, make cheia de detalhes e correntes penduradas no pescoço? Ou quem sabe usar um salto agulha e um vestido com paetês para fazer uma call com os colegas de trabalho? Ou seja, a moda, até mesmo a criada por grandes grifes, vai precisar adequar suas coleções com peças mais simples e que transmitam conforto. Isso não quer dizer, de forma nenhuma, que a qualidade não deverá ser mantida. Mas formas mais amplas, com linhas e materiais mais confortáveis, deverão fazer parte das novas coleções de marcas ligadas a este universo.

Valores de acordo com a economia atual – O mundo inteiro está sofrendo os impactos na economia desde o início da pandemia. Os salários de uma forma geral foram reduzidos, a necessidade de compra de alguns produtos tem sido questionada pelos consumidores e as empresas que quiserem se manter ativas vão precisar rever conceitos, e isso inclui preços. E na moda isso não será diferente. Isso quer dizer, em linhas simples, que o poder de compra diminuiu de uma forma geral. O consumo por impulso, que muito se viu no início de março até abril, é quase inexistente atualmente, e as pessoas estão focando no que precisam e, sim, analisando o custo e benefício de cada compra. Portanto, as marcas vão precisar reavaliar a forma como chegam ao preço final dos produtos e, provavelmente, se adequar à essa nova demanda.

Roupas para dentro e fora de casa – A moda não é apenas feita para vestir pessoas para ocasiões e locais especiais, ela existe para dar soluções à sociedade. E, neste momento, em que trabalhamos mais em casa, a criação precisará se voltar não apenas para as roupas confortáveis, mas também para as que sejam fáceis de lavar e passar e que visem a praticidade, mas sem deixar de lado a vaidade de quem quer se sentir bem vestido mesmo dentro de casa. Sim, as pessoas abandonaram o uso constante de pijamas em tempo integral, que aconteceu muito no início do isolamento, e agora elas acordam, se vestem e permanecem arrumadas dentro de casa. Mas esse “se arrumar” agora tem um novo significado, com peças que tragam a chamada ‘confort sensation’.

Simbologias e memória afetiva – Nós, designers e estilistas, teremos que ressignificar nosso trabalho. As pessoas estão em busca de peças que lhes passem algum tipo de mensagem, uma simbologia. Eu, por exemplo, passei o consumir muito o que me traz sensações de proteção. E isso será uma tendência na moda de uma forma geral. O público vai procurar roupas, acessórios etc que lhes transmitam alguma mensagem, alguma coisa positiva. Nas minhas novas coleções, estou trazendo um misto de simbologias ligadas à proteção e ao aconchego, com desenhos e formas que remetam àquela joia de família com memórias embutidas. Gosto de peças que você pode brincar; tenho trabalhado muito em pulseira que se transforma em colar, por exemplo.

Atemporalidade – Acredito que teremos menos “vítimas da moda”, pessoas que seguiam os lançamentos a cada temporada, e que mudavam seu guarda-roupa a cada estação. Se antes muitas vezes comprávamos algo que seria usado apenas em uma ocasião e depois colocado de lado, por conta da tendência de uma estação, a partir de agora o consumo será mais direcionado para acessórios, roupas e calçados que possam ser usados em diferentes ocasiões, que não sigam tendências muito específicas. Será a celebração do bom e velho jeans; das camisetas de cores que se complementam; de blazers, calças e vestidos de cortes mais sequinhos (porém confortáveis); dos acessórios que pontuam cor e estilo, mas sem exageros. Entretanto, acredito que o mercado de luxo deva permanecer inabalado, já que tem um público muito específico. Não estou me referindo às pessoas que vez ou outra compram uma peça de uma marca de luxo, mas àquelas que são consumidoras fiéis de determinados estilistas.

De volta à capsula – Com o final do isolamento, após meses observando um closet lotado e cheio de peças que foram inúteis nesse período, é natural que as pessoas se questionem sobre o que realmente precisam. E esse questionamento, é claro, vai fazer com que todos percebam que consomem muito mais do que precisam. E seguindo esse pensamento, o conceito de armário cápsula, com menos peças, mas que se complementam entre si, voltará com tudo. E isso vale também para os acessórios que permitam a possibilidade de customização com poucas peças que se misturem e se transformem em outras, como uma pulseira que carregue os pingentes que a pessoa ganhou ao longo da vida, ou duas pulseiras que possam se juntar em um novo e único modelo de colar, brincos de argolinhas como penduricalhos de cordões e pulseiras etc.

Processo de criação, produção e humanização no contato com o cliente – Tudo vai mudar na criação e na forma como o público vai consumir cada acessório, roupa e sapato. Na hora de criar, os profissionais vão precisar questionar se aquele produto realmente é necessário para esse novo consumidor, se terá mercado para ele. As marcas vão ter, ainda, que garantir que as peças cheguem “protegidas” até o consumidor. Desde o início da pandemia, revi toda a cadeia de produção e entrega, e só envio os acessórios após passarem por um processo bastante consistente em relação à sua higienização – os produtos são lavados em banhos especiais para metais, que retiram a gordura das peças após o manuseio e montagem, e as embalagens também são manipuladas apenas com as mãos higienizadas e com luvas. Quanto ao atendimento, precisarão ser mais exclusivos, com hora marcada, uma pessoa por vez. E mais: se o cliente quiser experimentar acessórios, uma peça de roupa ou sapato e não levar depois, será preciso fazer um processo de higienização especial daquela peça. Tudo vai mudar.

Moda consciente de verdade e respeito com o meio ambiente – A moda é um reflexo da sociedade e os profissionais que fazem moda não podem se alienar à realidade, fingindo que nada esteja acontecendo ao seu redor. As marcas precisam rever seus processos na criação de produtos, se tornando cada vez mais sustentáveis. É preciso um olhar mais atento ao que é criado. Uma nova tecnologia para um novo tecido, por exemplo, não pode ser tão interessante a ponto de poluir o meio ambiente ou de causar estragos no habitat de outros seres. O uso de peles, que já não deveria ser tolerado há muito tempo, a partir de agora é inaceitável. Testes em animais para novos produtos também devem ser banidos. Estamos vivendo uma situação que, ao que tudo indica, teve início exatamente pelo Homem interferir na vida animal. É preciso que passemos a enxerga-los com cuidado e respeito, ou pagaremos um preço ainda mais alto pelos males que estamos causando à Natureza no futuro.

Sandra Piscitelli

Nascida em 13 de novembro no bairro da Tijuca, cidade do Rio de Janeiro. A carioca estudou no Colégio Metropolitano na zona norte do Rio, formada em licenciatura em matemática pela UFRJ, Tecnólogo em informática e atualmente é mestre em Educação Matemática pela Universidade Federal de Juiz de Fora, se dedica à vida acadêmica. Estudando marketing de rede e publicidade pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Diretora executiva da empresa Piscitelli Entretenimentos e diretora do site de publicidade piscitellientretenimentos.com. Amante da poesia!

Você vai curtir